terça-feira, 31 de maio de 2011

desmoronamento

‘antes de nós termos condições para entrar na união europeia já ela se auto-destruiu’ quem o disse foi a lucija…
lucjia zorre é uma cidadã croata. conheci-a quando estagiámos juntos na cinemateca portuguesa.
disse-me isto com a total convicção de que as suas palavras estavam certas…
as palavras cortaram o silencio da mesa da esplanada do adamastor, em lisboa, num final de tarde regado a cerveja.
Chamei-a de louca. Disse-lhe que o futuro da Europa estava na UE.
Ela ouviu os meus argumentos, sorriu e utilizando uma expressão que tinha aprendido há pouco tempo disse-me ‘me aguarde!’
Hoje, passados quase seis anos, sou obrigado a dizer que ela é capaz de ter razão.
 

terça-feira, 24 de maio de 2011

traga-me uma cerveja... olhe e já agora traga também um pratinho de tremoços

‘uma manada de búfalos move-se sempre na velocidade do búfalo mais lento.

quando a manada é caçada, são os mais fracos e lentos na parte traseira que são mortos primeiro.

esta selecção natural é boa para a manada como um todo, porque a velocidade média e a saúde de todo o grupo continua melhorando pela matança regular dos seus membros mais fracos.

da mesma maneira, o cérebro humano funciona segundo seus neurónios mais lentos.

a ingestão excessiva de álcool, como nós sabemos, mata neurónios. Mas, naturalmente, ele ataca os mais fracos e lentos primeiro.

desta forma, o consumo regular de cerveja elimina os neurónios mais lentos, tornando seu cérebro uma máquina mais rápida e eficiente. É por isso que você sempre se sente mais inteligente depois de algumas cervejas.’

obrigado ao metamorfose digital por esta verdadeira pérola de conhecimento científico.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

vicios

homens obscuros vagueiam pelas ruas vestidos de gabardine.
aproximam-se das pessoas e, falando em voz baixa, perguntam ‘bu kre kumpra?’

no interior das gabardines e casacos compridos guardam pequenos frascos contendo um líquido transparente.
‘quinhentos escudos o frasco’, dizem eles com vozes quase sussurrantes.

à volta deles reúne-se um grupo cada vez maior de pessoas. Todas querem comprar. Todas querem um pouco. Por mais minúscula que seja a dose.

‘mais uma… por favor… só mais uma... eu tenho dinheiro’ diz uma mulher de olhos vidrados.
o vício é mais forte. todos voltam… ninguém foge.

sem água não é possível sobreviver.

obrigado electra por nos deixares uma semana (pelo menos) sem água.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

o tribunal psiquiátrico

em portugal um colectivo de juízes do tribunal da relação do porto absolveu um psiquiatra do crime de violação.

conta o diário de notícias que os senhores das togas negras absolveram o senhor da bata branca porque, para eles, ‘os actos sexuais dados como provados no julgamento de primeira instância não foram suficientemente violentos. Agarrar a cabeça (ou os cabelos) de uma mulher, obrigando-a a fazer sexo oral e empurrá-la contra um sofá para realizar a cópula não constituíram actos susceptíveis de ser enquadrados como violentos’.

os violadores são criminosos mas são, por vezes, igualmente encarados como pessoas que sofrem de um qualquer distúrbio mental crónico ou episódico… na mesma sala juntou-se um psiquiatra e um colectivo de juízes.

a única dúvida é sobre quem precisa, realmente, de ajuda e tratamento… para mim internavam-se os juízes e prendia-se o médico.

mas este não é caso inédito… numa cadeira do curso de direito da universidade de Lisboa era, antes do 25 de abril, normalmente apresentado o caso de um outro crime de violação.

a queixa tinha sido apresentada por duas turistas inglesas que tinham sido violadas no algarve… no final do julgamento o colectivo de juízes proferiu a sentença e inocentou os alegados violadores e responsabilizou as alegadas vitimas… tudo porque tinham tido segundo o colectivo de juízes ‘atitudes provocatórias em territórios do macho latino’.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

quem tem histórias para contar?

max aub foi o autor de 'crimes exemplares' mas falou também, e muito, sobre os homens e a sua história.

para ele havia três categorias de homens... os que contavam a sua história, os que não contam a sua história e, finalmente, aqueles que não a têm.

são, infelizmente, cada vez mais os anónimos, os 'indigentes', aqueles que por vontade própria se recusam a saír do anonimato. aqueles que não têm uma história para contar.

max aub escreveu sobre 'crimes exemplares'... pequenas histórias de pessoas anónimas que de alguma forma deixaram de ser pessoas sem história para passarem para a categoria de pessoas que contam a sua história.

mas sem deixarem de ser anónimas.

'Convidou-me para dançar sete vezes de seguida. E não valia a pena estar com manhas: os meus pais não tiravam os olhos de mim. O imbecil não tinha a menor noção de ritmo. E suava das mãos. E eu tinha um alfinete, comprido, comprido.'

vodka laranja é uma bebida indigesta

não gosto de vodka laranja… nunca gostei.

não me agrada aquele sabor agridoce… aquela sensação de tem te não caias que provoca.

e foi precisamente isso que me fez sentir o debate entre passos coelho e jerónimo de sousa.

faz-me confusão ver um dos partidos defensores de uma das formas mais selvagens do capitalismo de mãos dadas com um partido obsoleto e que se diz um acérrimo defensor da classe operária.

causa-me urticária… preocupa-me.

não voto. não porque não queira mas porque não posso. mas mesmo que pudesse… não seria em nenhum dos dois.

já disse que não gosto de vodka laranja?

privatizar? não. vou escolher o que me for mais barato.

ontem no debate entre jerónimo de sousa e passos coelho, o presidente do psd disse que o ps está a utilizar uma tática de 'terrorismo politico' contra o seu partido.

tudo porque os socialistas terão acusado o psd de quererem privatizar as escolas e os hospitais públicos. um argumento que deixou passos coelho enfurecido e com vontade de esclarecer a opinião pública portuguesa.

segundo o presidente social democrata se o psd for governo não vai privatizar escolas e hospitais. o que vai fazer é  privilegiar a opção (pública ou privada) que tenha menores custos para o Estado.

ainda há dúvidas?

terça-feira, 10 de maio de 2011

O homem morto

quando howard hughes morreu os jornalistas perguntaram ao seu advogado quanto é que ele tinha deixado... este respondeu... "quanto? deixou tudo"

num qualquer julgamento por falência fraudulenta de uma empresa as culpas acabaram por ser atribuidas ao Sr. X que, por ter morrido, não poderia ser julgado.

não há ninguém mais pobre ou mais fácil de ser culpado de tudo e mais alguma coisa do que um morto...

chico-espertices, provincianismos e outras coisas do género

o português é ingénuo...

almada negreiros dizia que os ingénuos são "as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legitimos poetas, os grotescos espantalhos da sua própria esperteza saloia".

tinha razão o velho mestre... que mais temos nós feito ao longo de 800 anos do que ser vitimas dessa nossa esperteza saloia?

mas pior que sermos ingénuos temos tido, ao longo desses 800 anos, episódios de um provincianismo atroz... aceitamos tudo com uma subordinação inconsciente e feliz. admiramos e desejamos o que os outros alcançam, mas nada fazemos para lá chegar... limitamo-nos a encolher os ombros e a lamentar a falta de oportunidades que não temos porque não procurámos.

quantas vezes não ouvimos governantes e politicos a dizerem que o objectivo é atingir niveis de desenvolvimento similares aos da Alemanha, França, Inglaterra?

o que aconteceu de imediato? lamentámos não ter uma economia com a força que estes países têm e aceitamos essa realidade com aquele sentimento de subordinação inconsciente e feliz e nada mais fizemos.

entre 1139 e 1910 vivemos numa monarquia... fizemos uma revolução, implantamos uma república... tudo para alcançar os elevados designios que estavam reservados aos portugueses.

o que aconteceu de seguida? o povo aceitou, encolheu os ombros e no fim nada mudou.

em 28 de maio de 1926 fizemos uma nova revolução... mais uma vez para recuperar a nação e levá-la a atingir os grandes designios que estavam reservados aos portugueses... o povo, mais uma vez, aceitou, encolheu os ombros e seguiu a sua vida...

passaram 48 anos... quase cinco décadas completas que resultaram numa das mais longas e absurdas ditaduras que o mundo ocidental jamais viu e numa guerra colonial absurda que pouco mais fez que ceifar vidas

fizemos mais uma revolução... a dos cravos desta vez.

o povo aí mudou... aceitou, agitou umas flores, falou nos 3D (desenvolver, democratizar e descolonizar) e de seguida encolheu os ombros continuou com a sua vida.

temos mais liberdade é certo...

mas no fundo continuámos e continuaremos a admirar o que os outros têm e a lamentar a nossa falta de sorte... aquela sorte que invejamos nos outros e que não procuramos para nós.

continuamos a querer parecer tudo sem sermos realmente nada... queremos parecer civilizados, queremos parecer desenvolvidos, queremos parecer cultos.

parecemos tudo isso... mas não somos...

continuamos a invejar o grau de civilização dos outros, o dinheiro dos outros, a cultura dos outros.

os suecos são civilizados
os alemães são ricos
os ingleses são cultos
os espanhois...
bem... os espanhois são espanhois

e nós...  nós lá vamos aceitando, com aquele sentimento de subordinação inconsciente e feliz, que nada temos de bom.
tendo como imagem de marca uma citação de um romano que teve a mania que era dono do mundo e que dizia que na lusitânia havia um povo que não se governava nem deixava governar.

Abril?



ficamos presos no 25 de Abril... 

deixamos os cravos murchar e apodrecer.