terça-feira, 10 de maio de 2011

chico-espertices, provincianismos e outras coisas do género

o português é ingénuo...

almada negreiros dizia que os ingénuos são "as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legitimos poetas, os grotescos espantalhos da sua própria esperteza saloia".

tinha razão o velho mestre... que mais temos nós feito ao longo de 800 anos do que ser vitimas dessa nossa esperteza saloia?

mas pior que sermos ingénuos temos tido, ao longo desses 800 anos, episódios de um provincianismo atroz... aceitamos tudo com uma subordinação inconsciente e feliz. admiramos e desejamos o que os outros alcançam, mas nada fazemos para lá chegar... limitamo-nos a encolher os ombros e a lamentar a falta de oportunidades que não temos porque não procurámos.

quantas vezes não ouvimos governantes e politicos a dizerem que o objectivo é atingir niveis de desenvolvimento similares aos da Alemanha, França, Inglaterra?

o que aconteceu de imediato? lamentámos não ter uma economia com a força que estes países têm e aceitamos essa realidade com aquele sentimento de subordinação inconsciente e feliz e nada mais fizemos.

entre 1139 e 1910 vivemos numa monarquia... fizemos uma revolução, implantamos uma república... tudo para alcançar os elevados designios que estavam reservados aos portugueses.

o que aconteceu de seguida? o povo aceitou, encolheu os ombros e no fim nada mudou.

em 28 de maio de 1926 fizemos uma nova revolução... mais uma vez para recuperar a nação e levá-la a atingir os grandes designios que estavam reservados aos portugueses... o povo, mais uma vez, aceitou, encolheu os ombros e seguiu a sua vida...

passaram 48 anos... quase cinco décadas completas que resultaram numa das mais longas e absurdas ditaduras que o mundo ocidental jamais viu e numa guerra colonial absurda que pouco mais fez que ceifar vidas

fizemos mais uma revolução... a dos cravos desta vez.

o povo aí mudou... aceitou, agitou umas flores, falou nos 3D (desenvolver, democratizar e descolonizar) e de seguida encolheu os ombros continuou com a sua vida.

temos mais liberdade é certo...

mas no fundo continuámos e continuaremos a admirar o que os outros têm e a lamentar a nossa falta de sorte... aquela sorte que invejamos nos outros e que não procuramos para nós.

continuamos a querer parecer tudo sem sermos realmente nada... queremos parecer civilizados, queremos parecer desenvolvidos, queremos parecer cultos.

parecemos tudo isso... mas não somos...

continuamos a invejar o grau de civilização dos outros, o dinheiro dos outros, a cultura dos outros.

os suecos são civilizados
os alemães são ricos
os ingleses são cultos
os espanhois...
bem... os espanhois são espanhois

e nós...  nós lá vamos aceitando, com aquele sentimento de subordinação inconsciente e feliz, que nada temos de bom.
tendo como imagem de marca uma citação de um romano que teve a mania que era dono do mundo e que dizia que na lusitânia havia um povo que não se governava nem deixava governar.

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